Solenidade da Imaculada Conceição

Caros Irmãos,

Celebramos a festa da Imaculada Conceição no tempo do Advento. Maria está à raiz do mistério pascal e é o fundamento do mistério da Encarnação. Celebramos hoje uma mulher concreta, Maria de Nazaré. Deus, a quem nada é impossível criou como quis sua própria Mãe, a criou imaculada e santíssima, prevendo a encarnação de seu Filho na terra. Quando o arcanjo Gabriel lhe trouxe o anúncio da maternidade do Filho de Deus, lhe disse que ela estava repleta da graça de Deus. E no momento que ela fez uma coisa só com o Filho de Deus em seu ventre, a plenitude da graça ultrapassou todos os limites imagináveis pela criatura humana. Desde sempre o fruto mais precioso da redenção de Cristo, Maria é na história da salvação a imagem ideal de todos os redimidos.

O que vem a ser o pecado original lembrado na liturgia de hoje, tendo em vista que NOSSA SENHORA FOI PRESERVADA DO MESMO? Pecado Original é o pecado quer significar o pecado cometido por aqueles que foram os protagonistas do mistério da criação. Pecado original foi o pecado cometido por Adão e por Eva na origem da humanidade. Ensina as Escrituras Sagradas que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e os constituiu na sua amizade. Com o tempo, gozando da amizade do Criador, as criaturas humanas desobedeceram a Deus, ou seja, quebraram aquele anelo que uniam a absoluta confiança que havia entre Criador e criatura. Isso foi o primeiro pecado, o chamado pecado original. Portanto é bom sabermos que o pecado original não é o pecado do sexo livre, aquele pecado do sexto mandamento da Lei de Deus.

O pecado original é o pecado raiz de todos os pecados e desequilíbrios da criatura humana. Todos nós, indistintamente, somos implicados no pecado de Adão e de Eva. Entretanto, por causa de sua maternidade divina, Maria Santíssima foi preservada tanto do pecado original quanto das conseqüências daquele Pecado. Por isso celebramos a festa de hoje, a festa da Imaculada Conceição desde a concepção e que a Virgem viveu toda a sua peregrinação neste mundo sem pecado. Mulher privilegiada, em vista dos méritos de seu Filho, o Salvador, o Redentor da humanidade.

Ensina a Igreja, pela palavra proclamada por Pio IX que: “A Beatíssima virgem maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de deus onipotente, em vista dos méritos de jesus cristo, salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original....”

Maria é a nova Eva. Isso porque Deus não usou de Maria como um instrumento somente passivo, mas, sobretudo, porque Maria colaborou para a salvação humana com livre fé e obediência espontânea. Maria foi à criatura que forneceu a Jesus as possibilidades humanas, sendo dele a maior colaboradora na restauração da aliança com Deus. A iconografia da Virgem Imaculada lembra Maria com o pé calcando a cabeça da serpente. Isso lembra também Eva, que fez o contrário: ouviu a voz da serpente, que é o diabo e acreditou nela. Maria, calcando a cabeça do monstro do mal está nos lembrando que ela esteve acima do pecado, que ela é a vitoriosa com Jesus na história da redenção.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura(Gn 2,9-15.20) demonstra a vitória sobre a serpente. Deus quer oferecer ao homem sua amizade, mas o homem prefere estar cheio de sua auto-suficiência: a história do pecado de Adão. Mas, ao mesmo tempo que ele toma conhecimento de sua desgraça, a promessa de que ele calcará aos pés a serpente sedutora aparece-lhe como sinal da restauração da amizade com Deus.

A Segunda Leitura(Ef 1,3-6.11-12) nos introduz no plano de Deus para com os homens, destinados a serem imaculados. O começo de Efésios resume todo o agir de Deus na palavra “bênção”. Deus é sempre; seu amor para conosco, também, desde a eternidade. E Deus é, ao mesmo tempo, a nossa meta. Mas não a podemos alcançar por nossas próprias forças. Aí intervem a graça de Deus, dando-nos Cristo como Salvador e Cabeça; por ele também, nosso pecado é apagado; nele, temos esperança: Deus nos adotou como seus filhos.

O Evangelho(Lc 1,26-38) nos defrontamos com a Anunciação: “Encontraste graça junto a Deus”. Maria conclui e supera toda a série de eleitos de Deus. Ela é a plenitude de Jerusalém, em que o amor de predileção de Deus se plenifica. A mensagem a Maria, a respeito de Jesus, supera aquela a Zacarias, a respeito de João(Lc 1,31-33). Jesus é filho da Virgem Maria, mas também presente de Deus à humanidade. Diferentemente de Zacarias, Maria responde, com a palavra ao mesmo tempo singela e grandiosa: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

Irmãos Caríssimos,

Maria não é uma figura fora da humanidade. Ela encarna a criatura que Deus sempre quis, isto é, santa e em comunhão com ele. Por isso é modelo nosso: a contemplamos como um espelho daquilo que devemos, e que queremos ser. Ela é chamada de estrela da nova evangelização, mas não há entre nós e ela a lonjura de uma estrela. Porque, embora santíssima e imaculada, é carne de nossa carne, como carne de nossa carne é o seu Filho redentor, que quis conosco repartir sua privilegiada mãe.

A Imaculada Conceição pode ser considerada como Maria do Advento, pois o Senhor vem para restaurar os seres humanos, assemelhando-os mais e mais ao ser humano ideado por Deus, realizado plenamente em MARIA. AJUDE-NOS A CONCEIÇÃO IMACULADA a santos e imaculados festejarmos o Natal do seu Filho. Amém!


O Advento e seu significado
 
O Advento é um dos tempos do Ano Litúrgico e pertence ao ciclo do Natal. A liturgia do Advento caracteriza-se como período de preparação, como pode-se deduzir da própria palavra advento que origina-se do verbo latino advenire, que quer dizerchegar. Advento é tempo de espera d’Aquele que há de vir. Pelo Advento nos preparamos para celebrar o Senhor que veio, que vem e que virá; sua liturgia conduz a celebrar as duas vindas de Cristo: Natal e Parusia. Na primeira, celebra-se a manifestação de Deus experimentada há mais de dois mil anos com o nascimento de Jesus, e na segunda, a sua desejada manifestação no final dos tempos, quando Cristo vier em sua glória.

O tempo do Advento formou-se progressivamente a partir do século IV e já era celebrado na Gália e na Espanha. Em Roma, onde surgiu a festa do Natal, passou a ser celebrado somente a partir do século VI, quando a Igreja Romana vislumbrou na festa do Natal o início do mistério pascal e era natural que se preparasse para ela como se preparava para a Páscoa. Nesse período, o tempo do Advento consistia em seis semanas que antecediam a grande festa do Natal. Foi somente com São Gregório Magno (590-604) que esse tempo foi reduzido para quatro domingos, tal como hoje celebramos.

Um dos muitos símbolos do Natal é a coroa do Advento que, por meio de seu formato circular e de suas cores, silenciosamente expressa a esperança e convida à alegre vigilância. A coroa teve sua origem no século XIX, na Alemanha, nas regiões evangélicas, situadas ao norte do país. Nós, católicos, adotamos o costume da coroa do Advento no início do século XX. Na confecção da coroa eram usados ramos de pinheiro e cipreste, únicas árvores cujos ramos não perdem suas folhas no outono e estão sempre verdes, mesmo no inverno. Os ramos verdes são sinais da vida que teimosamente resiste; são sinais da esperança. Em algumas comunidades, os fiéis envolvem a coroa com uma fita vermelha que lembra o amor de Deus que nos envolve e nos foi manifestado pelo nascimento de Jesus. Até a figura geométrica da coroa, o círculo, tem um bonito simbolismo. Sendo uma figura sem começo e fim, representa a perfeição, a harmonia, a eternidade.

Na coroa, também são colocadas quatro velas referentes a cada domingo que antecede o Natal. A luz vai aumentando à medida em que se aproxima o Natal, festa da luz que é Cristo, quando a luz da salvação brilha para toda humanidade. Quanto às cores das quatro velas, quase em todas as partes do mundo é usada a cor vermelha. No Brasil, até pouco tempo atrás, costumava-se usar velas nas cores roxa ou lilás, e uma vela cor de rosa referente ao terceiro domingo do Advento, quando celebra-se o Domingo de Gaudete (Domingo da Alegria), cuja cor litúrgica é rosa. Porém, atualmente, tem-se propagado o costume de velas coloridas, cada uma de uma cor, visto que nosso país é marcado pelas culturas indígena e afro, onde o colorido lembra festa, dança e alegria.
Mensagem de Advento de D. António Carrilho, Bispo do Funchal

Advento, tempo de renovação e de esperança A Igreja começa neste Domingo, 29 de Novembro, um tempo novo: é o Tempo de Advento, tempo de preparação para o Natal que se aproxima. Ressoa na Liturgia da Igreja o convite a anunciar a feliz notícia: “Deus vem!” Duas palavras apenas anunciam a todos os corações a esperança que renova a vida do homem e lhe abre horizontes de uma vida em plenitude. Duas palavras apenas são luz que ilumina o nosso caminho, que aquece os nossos corações e nos abre ao amor de Deus e ao nosso próximo. “O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos” (1 Tes 3,12). Advento, em latim “Adventus”, significa “vinda”. Em que consiste, então, a vinda do Senhor? Será que esta vinda também nos envolve e responsabiliza? Caminhar em Tempo de Advento é olhar para o nascimento de Cristo, há mais de dois mil anos; é apontar para a Sua última vinda gloriosa; mas é também estarmos vigilantes e atentos às Suas vindas, no hoje das nossas vidas. Preparar o Natal é olhar para a vinda de Cristo. Ele já veio. Nasceu num lugar concreto, num país concreto e transformou a nossa história e a nossa vida. Naquela pequena povoação da Judeia, em Belém, nasceu Jesus, filho de Maria, e esse Menino iniciou um caminho do qual todos nós somos herdeiros. Olhar para esse acontecimento que marca a história é sermos introduzidos na história da Salvação, no projecto de Deus que vem até nós, de uma forma muito especial, em Seu Filho Jesus. No Advento também preparamos a última vinda do Senhor. Ele há-de vir na Sua Glória, no final dos tempos. O Advento é um tempo favorável para a redescoberta de uma esperança não vaga nem ilusória, mas certa e confiável, porque está "ancorada" em Cristo, Deus feito homem, rochedo da nossa salvação. Com esta confiança construímos, agora, o nosso presente e olhamos para o futuro com olhos de esperança, com os olhos de Deus. Tempo de vigilância e oração Mas “Deus vem!”. Ele vem agora, no hoje das nossas vidas. Advento é, por isso, tempo de vigilância e de oração, tempo de perceber e experimentar a presença de Deus, a sua visita constante às nossas vidas. Deus vem agora a nós de muitas maneiras, através dos acontecimentos e das pessoas. Seja, pois, este tempo um estímulo para estarmos com os olhos e os corações bem abertos, vigilantes e atentos à descoberta da presença de Deus nas nossas vidas, na Igreja e na Sociedade, na família, no trabalho, na escola, na dor e na alegria. Veio, virá e vem sempre. Não é um simples movimento constante de aproximação, mas revela-nos quem é Deus: um Deus que continuamente se aproxima do homem, o resgata e recria. Não é um Deus ausente e desinteressado da nossa vida, mas é um Pai que vela por nós, com amor e carinho. O advento será, assim, um tempo para reconhecermos Deus tão próximo, que nos impele a agir, a reagir, a dar resposta ao Seu amor, a saborear a alegria da nossa filiação divina. “Deus vem!”. Para compreendermos o significado profundo destas palavras podemos olhar para aquela pessoa, graças à qual se realizou, de modo único, singular, a vinda do Senhor: a Virgem Maria. "Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher" (Gl 4,4). Seja Maria, Mãe do Deus que vem, a caminhar connosco neste Tempo de Advento, rumo à grande celebração do nascimento de Cristo. Seja a Mãe de Deus modelo para cada um de nós. Modelo para aqueles que esperam a vinda do Salvador com alegria, modelo para aqueles que se sabem frágeis e necessitados de Deus, mas, ao mesmo tempo, responsáveis, colaboradores e comprometidos na Sua obra. Maria foi colaboradora nessa acção de Deus, aceitando ser a Mãe do Seu próprio Filho: ela deu ao mundo Cristo Jesus, o Emanuel, Deus connosco. Com ela podemos também nós dar Cristo ao mundo de hoje; podemos viver n’Ele e anunciá-l’O, através dos nossos gestos, visitas, trabalhos e palavras, na vida de todos os dias. Visita da Senhora Peregrina É tempo de aprendermos com Maria, a Senhora Peregrina que está entre nós até ao próximo mês de Maio; aprendermos com a Mãe a sua mensagem de fé e amor: ela ensina-nos a ter um coração aberto, que vence o medo porque confia, que guarda a palavra porque é Palavra de Vida Eterna, que vence o ódio com amor, que vence a revolta com a confiança, que vence o egoísmo com generosidade. A tradicional “Renúncia do Advento” é, também, um sinal de abertura e de sentido comunitário. Neste ano será para fazer face às despesas da Visita da Imagem Peregrina à nossa Diocese. Uma forma de participação generosa de todos e, assim, juntamente com as outras formas de colaboração das paróquias, já indicadas pela Comissão Coordenadora da Visita, esperamos assegurar os recursos financeiros necessários. Imensa gente se tem manifestado muito reconhecida e agradecida por esta Visita da Imagem Peregrina. Existem até muitos sinais de que, para além da Imagem, a Mensagem vai tocando a consciência e os corações. É o mais importante na medida em que, através das expressões religiosas mais simples e acessíveis, aprofundam-se as exigências da fé e do compromisso da vida cristã. Daí o lema da Visita: “Com Maria, ser Igreja no mundo actual”. Para viver de maneira mais autêntica e frutuosa este período de Advento, coloquemos o nosso olhar em Maria Santíssima, a Virgem do Parto, e Ela será caminho para o Menino Deus. Quando Deus bateu à porta da sua vida jovem, ela recebeu-o com fé e com amor. Agora é Deus quem bate à porta do nosso coração. Não tenhamos medo e deixemos que Deus penetre e enriqueça a nossa vida com os dons do Seu Amor. Seja esta a nossa oração: “Vinde Senhor Jesus!”